domingo, 28 de setembro de 2008

Quero voltar ao Terreiro do Paço...

Terreiro do Paço - Um poema de Luís Costa


Quero voltar ao Terreiro do Paço,

Onde a chave do sonho se perdeu!
Quero voltar àquele mesmo espaço,
Repetir a força daquele abraço,
Tocar, de novo, címbalos no céu!

Quero muito voltar àquela praça,
Onde a voz da liberdade se ergueu!
Quero ver o peito daquela massa
Humana, sem refreio nem mordaça,
Tocar, de novo, címbalos no céu!

Quero voltar ao rossio claustral,
Resgatar o sonho que se perdeu,
Respirar, de novo, aquele ideal,
Que já foi a alma de Portugal,
Tocar, de novo, címbalos no céu!

Luís Costa

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pasto Florido


Pasto florido - um poema de Luís Costa

Os abutres vão desenhando
Círculos negros no ar,
Enquanto as hienas, salivando,
Vão espreitando
A hora certa de atacar.
Na planura descampada,
Confiante e distraída,
Vai pastando a manada,
Submissa e condenada
Ao fero ciclo da vida!
Neste pasto florido,
Quem não come... é comido!
Um leve cicio do vento
Traz o perigo em segredo!
E o cheiro pestilento
Daquele bando sangrento
Semeia, no pasto, o medo!
A bicharada mais esperta,
Recuando acobardada,
Aninha-se, pela certa,
No centro, que se aperta,
Do denso corpo da manada!
Neste pasto florido,
Quem não come... é comido!
A ala mais destemida,
Valente e denodada,
Enfrenta a trupe bandida,
Pagando, com a própria vida,
A vida da bicharada!
E uma raposa astuta,
Lá no cimo, nas alturas,
Vai brandindo a batuta,
Redesenhando na luta
Mais intrigas e urdiduras.
Neste pasto florido,
Quem não come... é comido!

Luís Costa

domingo, 21 de setembro de 2008

Não te entregues, ó professora!

Um poema de Luís Costa

NÃO TE ENTREGUES

Não te entregues, Ana Maria,
Que a esperança não morreu!
Não te entregues, todavia,
Que o lúcido raiar do dia
Já anuncia o jubileu!

Não te entregues, professorinha,
Que a clara manhã já lá vem!
Não cedas à noite mesquinha
Que a aurora já se adivinha
Na estrelinha que a brisa tem!

Não te entregues, Ana Maria,
Mantém o corpo puro e são!
Não o dês à velhacaria,
À mão torpe da chularia,
Que te esvazia de ilusão!

Não te entregues, ó professora!
Resguarda a tua dignidade,
Repele essa mão impostora,
Essa vontade ditadora,
Resiste até à claridade!

Não te entregues, Ana Maria,
Que já lá vem a luz do dia!

Luís Costa

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Amizade...




A amizade
Para quê descrever
Se a posso receber,
Se a posso sentir
E mal definir?

Amizade
É amor, é carinho
O nunca estar sozinho.
Para quê descrever?

A amizade
Não tem cor, altura,
Raça ou cura.
É uma palavra amiga
Que nunca está perdida
Para quê descrever?
É ter-te…


Safira

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No teu olhar...


No olhar podemos ver
quem ama,
o que sente,
se tem poder.

No olhar podemos
quem nos ama,
o que sente,
o quanto nos ama.

No olhar podemos ver
quem nos quer,
o que quer,
o quanto nos quer.

No teu olhar posso ver
se me amas,
o que queres,
se me queres.

No teu olhar posso ver
quem eu quero,
quem tu queres,
o que queres.

No teu olhar posso ver
se é o fim,
quando é o fim,
porque é que acabou.

Sem te olhar
posso dizer,
que acabei,
o que não comecei.

Safira

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O silêncio permite-nos...

Pintura de Safira

O silêncio permite-nos ter uma vida interior, algo que não navega ao
sabor da pressa, da anarquia das sensações ou das notícias.
Olha! Talvez qualquer coisa como a que se sente ao olhar as cores do
entardecer ou miríades do arco – íris.
Algo longe, muito longe, do reboliço do superficial, do diz que diz,
do supérfluo, do tonto e do bacoco que inflaciona esta terra.
É pelo silêncio que se entra noutra dimensão.
Talvez por isso adore a noite e o seu silêncio.
Mais do que pelas palavras é pelo silêncio que se entra na casa do ser (Dasein
chamava-lhe Heidegger). E era importante que lá entrássemos, porque,
quanto a mim, só assim nos aproximaremos da nossa dimensão humana.
Todos devíamos ter um pouco de pastor, o clássico vizinho das grandes
paisagens bucólicas e das estrelas.
Mas tu, que tens intuição, diz-me: por que fugimos de nós próprios,
de estarmos a sós connosco mesmos?
Será que temos medo da solidão ou temos receio de pensar naquilo
que nos pode complicar a vida ao desnudar os nossos mais profundos sentimentos?
Vá lá, ajuda-me… Eu quero compreender…
Ah! Dizes-me que eu própria sou incompreensível… É?
Está bem. Talvez seja isso. Talvez…Não queres conversa comigo. Já
percebi. Fiquemo-nos então pelo que apregoei. Vale?
Escuta…Escuta o silêncio…Ouve bem! Vês que também fala… Até um dia!...
Bom! Talvez, te deixe em paz, não te aborreça mais.
Para decidir vou consultar o silêncio.
O silêncio que não pode ser silenciado. Ou pode?Não, não pode.
Faz parte da memória e é pela memória que evoco os meus tempos de estudante.
É pela evocação, em momentos de nostalgia, que a torno ausência presente.
Uma noite boémia. Uma tertúlia na Velha Escola de Artes,
sei lá, mesmo uma escaramuça, uma melancolia indescritível ao relembrar
o Velho Galinheiro (A sineta velha triiiiimmmm, meu amor chama por mim…),
chamando para as aulas.
Um encontro de amor mais aconchegado ali mesmo no banco de jardim ,
(Lágrimas que a gente chora…que elas vão e não voltem mais).
Um beijo mais ousado a saber a clandestino ,
com o amado que vejo de rugas, cabelos brancos...
Uma tarde sentada junto ao Tejo ou uma serenata às
tantas da Madrugada, tão tonta e tão doce...
Enfim! Uma serena nostalgia, uma doce saudade...

Sorriso terno,

Safira

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A um amigo...

Pintura de Safira

Se o simbolo da amizade é uma flor,

Se oferecer flores é ternura,

Aqui tens a ternura da amizade,

São para ti estas flores!

Safira