terça-feira, 27 de novembro de 2012

Jorge Amado homenageado no Estoril


Inaugurou-se no sábado, 24, na galeria do Casino Estoril, o XXVI Salão de Outono, que teve, desta feita como tema a obra do escritor brasileiro Jorge Amado.



A mostra, que estará patente ao público até 15 de Janeiro, integra-se, pois, nas iniciativas que, designadamente nas universidades de Lisboa, Coimbra e Porto, têm assinalado o centenário do nascimento do artista. Uma homenagem plena de significado aqui, onde Jorge Amado esteve com muita frequência com sua mulher, Zélia (de que um dos livros tem por título «Jardim de Inverno» em lembrança do que era o Jardim de Inverno do Casino), onde autografou alguns dos seus livros, homenagem realçada pela amizade que nutria pelo director da galeria, Nuno Lima de Carvalho, que amiúde o acompanhou nas andanças pelo território nacional.




A galeria registou uma enchente própria dos grandes dias, estando presente também o Sr. Presidente da Câmara, assim como cerca de duas centenas de amigos e admiradores da obra de Jorge Amado e dos 46 artistas que, na circunstância, ali expuseram as suas obras – pintura, escultura, desenho...

Diga-se que se trata, na verdade, de uma exposição notável, em que não regatearam a participação os melhores artistas portugueses e brasileiros nossos contemporâneos. Na impossibilidade de destacar todos, permita-se-nos que, além dos «da casa» como Nélio Saltão (com um original «Pantanal» de bambu) e Edgardo Xavier, saudemos a deliciosa escultura «Baianas», de Paulo Ossião (que habitualmente nos brinda com aguarelas e aqui também nos mostrou Salvador da Baía e Baianas em aguarela); «Amante da Liberdade», de Gabriel Seixas, muito bem concebida a mulher de mármore ruivina enleada em rede que um alicate começa a cortar; o pedaço de barca, de proa erguida e olhos de angústia, de Carlos Ramos, a evocar «Capitães de Areia»…

São, de facto, essa e outras obras de Jorge Amado – «Gabriela», «Dona Flor e seus Dois Maridos», «Tieta do Agreste»… – riquíssima fonte de inspiração; e os artistas cujas obras estão patentes nesta exposição da galeria do Casino souberam transmitir-nos pela Arte o que foi a imorredoira obra literária do homenageado.

Lima de Carvalho teve ensejo, na ocasião, de evocar o que foi a passagem de Jorge Amado pelo Casino, as iniciativas que se fizeram cá e lá (na Baía).

Não é lugar-comum: esta é mesmo uma exposição a não perder!

In Blog " Notas & Comentários"








segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Capacidade de Adaptação dos Portugueses

Os observadores estrangeiros maravilham-se de que Portugal resista à crise política e económica com tal poder de adaptação. Há nos Portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato. O infinito é o que eu situo - dizem. E assim vivem. Protegidos talvez por essa condição de afecto pelas coisas, pelos seus próprios delitos, que não consideram dramáticos, só ao jeito das necessidades. De resto — quem se apresenta a salvar-nos que não esteja suspeitamente indignado? Os que muito se formalizam muito escondem; os que acusam demasiado privam-se de ser leais consigo próprios. O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.




Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A questão


Compreender a nossa elite política e a elite dos nossos comentadores é uma meta inatingível.

Na quarta-feira passada, na Comissão de Finanças da Assembleia da República, Vítor Gaspar disse, em tom irónico, uma banalidade. De então para cá, o mundo dos comentadores ajoelhou-se, dobrou-se sobre si próprio e prestou veneração à vulgaridade.

Gaspar disse que «existe um desvio entre aquilo que os portugueses querem que o Estado Social lhes forneça e os impostos que estão dispostos a pagar por esses serviços.» Apesar da questão estar intencionalmente mal formulada (porque, comparativamente com outros países, os portugueses pagam mais impostos e têm um Estado Social pior) e não trazer nada de novo, a nossa elite política e os nossos media, nos últimos dias, não fizeram outra coisa que não fosse reproduzir e comentar a trivialidade. Na verdade, a questão de se definir os limites do Estado e, em particular, os limites do Estado Social é antiga, não foi descoberta por nenhum Gaspar.

O que de facto seria interessante era que Gaspar, ou qualquer outro constituinte das nossas elites, explicasse, a quem paga os impostos, como é que existem países que, sem terem petróleo nem terem recursos naturais superiores aos nossos, conseguem ter um verdadeiro Estado Social e um nível de vida que não tem comparação com o português. Esta seria a verdadeira questão a aprofundar e não a questão mal-disposta e arrogante formulada pelo ministro das Finanças. Precisamente o ministro que deveria mostrar-se particularmente humilde perante os portugueses. Precisamente o ministro que tinha a obrigação de pedir indulgência aos contribuintes pela série de asneiras e de erros que cometeu, desde que assumiu funções.

Mas compreender a nossa elite política e a elite dos nossos comentadores é uma meta inatingível. O melhor mesmo é arredá-las do poder.  

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