domingo, 31 de julho de 2011

Enfim férias!

Enquanto partimos de férias deixo-vos com uma pintura minha...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Poema Matemático


Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.

"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.

E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.

Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas
e pitagóricas.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.

E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.

Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

(Poema cuja autoria não foi possível identificar)

domingo, 24 de julho de 2011

Morreu Maria Lúcia Lepecki


Maria Lúcia Lepecki nasceu em Axará, no estado de Minas Gerais, no Brasil, mas estava radicada há várias décadas em Portugal, sendo uma profunda conhecedora da literatura portuguesa, que leccionou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi professora catedrática a partir de 1981.

Brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, era autora de obras como “O romance português contemporâneo na busca da história e da historicidade, “Uma questão de ouvido: ensaios de retórica e interpretação literária” ou “Meridianos do texto”.

Camilo Castelo Branco foi o centro da sua tese de doutoramento, em 1967, que iniciou anos antes na Universidade de Sorbonne, em Paris, e que viria a terminar na Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil. Fora no Brasil que terminara a licenciatura em Filologia Românica.

Começou a aprender latim, inglês e francês com a mãe, a partir dos nove anos. Numa autobiografia publicada em Dezembro de 2006 no Jornal de Letras, a que deu o nome de “Historinha de vida”, lembra ter crescido, no Brasil, numa casa “cheia de livros e de conversas interessantes”. “Era pouco dada a brincadeiras, de modo que a mamãe teve o bom-senso de me ensinar a ler aos cinco anos. Foi um sossego, a partir dali não me faltou diversão. Lia obsessivamente, do Monteiro Lobato ao Viriato Correia ou o Francisco Marins, e mais o que escarafunchava nas estantes do pai. Dickens, Scott, Dumas e até um livro de capa azul, ‘O Primo Bazílio’. Devorei-o, às escondidas, aos dez anos. Não entendi da missa a metade. Confidenciei o mal-feito ao meu pai, ia eu na casa dos quarenta. E ele: ‘Não te fez mal nenhum, filha’. Teve razão”.

No mesmo texto, recorda que lhe perguntavam com frequência se tinha tido dificuldade em adaptar-se a Portugal. “Na verdade, não”, escreve, para depois acrescentar: “Talvez por causa do meu pai, que, muito conhecedor de História e de Literatura portuguesas, trazia sempre à baila, a propósito ou talvez não, coisas tão diferentes como a “Crónica de Dom João I”, o Eça ou o Marquês de Pombal. Isto para não falar dos três exemplares de “Os Lusíadas”, esparramados estrategicamente pela casa: um no escritório, outro na mesinha da saleta e o terceiro na mesa de cabeceira do pai. Portugal integrava o imaginário da nossa casa. Isto seguramente me facilitou a vida”.

Colaborava em várias revistas e jornais portugueses e estrangeiros, sobretudo na área da literatura, como a Colóquio/Letras e o suplemento literário do Estado de São Paulo.

Em 2004, recebeu o prémio de ensaio literário da Associação Portuguesa de Escritores.

Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico. “"Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira”, sustentou na altura.

O escritor Baptista-Bastos, que à Lusa confirmou a morte da ensaísta, referiu-se a Maria Lúcia Lepecki como uma “ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa”.

Helena Roseta – que a conheceu no final dos anos 1990 quando organizava o espólio de Natália Correia e de quem Lepecki foi apoiante na candidatura à Câmara de Lisboa, em 2007 – recorda-a pelo “sentido físico muito forte” na forma como comunicava.

A graça que tinha “em pôr as coisas”, diz, traduzia “a delícia pela língua portuguesa” que a acompanhavam na soltura e no riso que lhe vinham de uma “grande vontade de viver”. Força que, recorda Roseta, deixava notar até numa certa sobranceria perante a doença. “Lembro-me, há uns anos, de me ter dito que tinha vencido um ‘cancrito’.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Uma barbaridade chamada acordo ortográfico


A língua portuguesa foi assassinada na escola. Parece que, no coração do Ministério da Educação, certas estruturas superiores ou intermédias têm tido mais poder do que o próprio titular da pasta e conseguem impor as suas concepções, a sua vontade programática ou a sua tremenda propensão para a inércia e para a inépcia.

No que toca ao português, os alunos desabituaram-se de tirar significados, não sabem consultar capazmente um dicionário, não se habituaram a ler autores significativos e muito menos a gostar deles. Não conseguem interpretar em condições um qualquer texto literário e exprimem-se cada vez com mais problemas e deficiências no tocante à extensão e propriedade do léxico, à articulação sintáctica, ao respeito de regras gramaticais elementares, à correcção da ortografia e até da pronúncia de muitos vocábulos. Tanto quanto sei, na área das matemáticas e da simples aritmética, passam-se coisas que, mutatis mutandis, acabam por ser de sinal muito semelhante.

Sobre essas falhas básicas, o actual ministro tem tido o desassombro de dizer verdades como punhos. É portanto de esperar que ponha em prática uma série de medidas para contrariar o presente estado de coisas.

Esse estado de coisas só poderá agravar-se com a aplicação nas escolas de uma barbaridade chamada Acordo Ortográfico. Se o ministro da Educação tem dúvidas a este respeito, basta-lhe convocar alguns especialistas, ou pedir para ver o parecer da Comissão Nacional da Língua Portuguesa, ou o dos seus próprios serviços (ao tempo da assinatura do AO, a Direcção-Geral do Ensino Básico e Secundário). Pode mandar analisar por gente competente não apenas as burricadas que o documento consagra, mas as consequências que ele vai ter ao nível da escola: facultatividades que redundarão na desortografia, confusões e equívocos, incertezas e flutuações permanentes na aprendizagem e na maneira de escrever, pronúncias desfiguradas, lesões na própria utilização escorreita da língua, custos astronómicos directos e indirectos na criação e aplicação do sistema.

O Programa de Governo é, a este respeito, de uma insensibilidade chocante, para não dizer de uma obtusidade clamorosa. Pode-se apostar dobrado contra singelo que nenhum dos seus autores leu jamais o texto do Acordo Ortográfico. Nenhum dos seus autores sabe do que fala ou escreve quando inclui nesse programa o propósito de "implementar" a aplicação da coisa. Nenhum dos seus autores ponderou, nem de perto nem de longe, as consequências dessa aplicação.

De boas intenções estão sempre os programas cheios. Mas este é um dos pontos em que o voluntarismo de natureza política deve ceder perante as objecções científicas e técnicas que foram suscitadas e a que nunca foi dada resposta convincente. É tempo de reexaminar essas objecções sem preconceitos nem chavões estéreis.

Suspender o Acordo Ortográfico (que, de resto, não pode considerar-se em vigor) e promover a sua revisão não é apenas uma questão de bom senso. É um imperativo nacional no tocante à defesa da língua e da cultura do nosso país. E essa hoje é uma das grandes responsabilidades de Nuno Crato.

Por Vasco Graça Moura

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dia Internacional do Homem


Decretado pela UNESCO para dia 15 de Julho

Um teorema difícil de resolver!


Um teorema difícil de resolver!
A Maria partiu tudo…partiu a loiça toda!
Os cozinheiros vieram para a rua, com os tachos e as panelas. Juntaram-se às centenas, mas não conseguiram nada! Pelo contrário!
As receitas foram mudadas, ficaram mais horas a “cozinhar”, a mexer os caldos, a rapar os tachos, amuados na despensa… Depois, tinham que se espiar uns aos outros, sobretudo quando faziam “grelhados”. Sim, porque as “grelhas” aumentaram. Surgiu uma nova dieta, com menos calorias, não fossem os cozinheiros engordar! Além disso, a Maria passava a vida a chamar-lhes “malandros”! Tinham que estar a tempo inteiro na cozinha! Se não era para cozinhar, então inventassem receitas, menus, com criatividade, porque o objectivo era pôr tudo em pratos limpos! Da cozinha tinha que sair de tudo, mesmo que a qualidade não fosse grande coisa. Tinha que se dar uma nova oportunidade aos nabos, tinha que se certificar a sua qualidade!
Claro que a despesa aumentou! A Maria não parava, encomendava pareceres, pedia consultorias e até deu novas tecnologias a todos. Aos cozinheiros e aos clientes, vejam só! Até mandou renovar os estabelecimentos! Tinha que ser perfeito, porque a sua reputação internacional estava em causa!
Apesar de tudo, as coisas não estavam bem. E, antes que o caldo entornasse, o “chef” substituiu a governanta pela Isabelinha.
A Isabelinha chegou de avental branco, de luvas, com um sorriso enorme estampado no rosto. Ela sabia que era uma aventura difícil, talvez a maior aventura de toda a sua vida! E ria-se, ria-se muito!… Os cozinheiros protestavam, mas ela ria-se muito. E, com paninhos quentes, lá foi puxando a brasa à sua sardinha, insistindo nos grelhados, com ligeiras variações, à sua moda… Mas as sopas começaram a azedar. Os clientes andavam zangados, as facturas aumentavam e o dinheiro escasseava. O caldo entornou-se mesmo! E mudou-se a governanta! Desta vez seria um homem!
O homem chegou e, espantado certamente, pôs-se a olhar para os tachos! Tantos tachos, numa cozinha tão pequena! Tanta gente a comer da mesma panela! Tantas máquinas, tantos aparelhos! Tanto desperdício, tanto lixo! E tantos pobres, à porta, com fome!
O homem pôs-se a fazer contas, que nisso é ele bom, e ainda não falou… A equação é difícil de resolver!
Autora Conceição Couceiro