quarta-feira, 25 de maio de 2011

Infinito...

O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido,
Tudo o que o nosso olhar só vê por
um momento
Tudo o que fica na Distância diluído,
Como num coração a voz do
sentimento.
Tudo o que vive no lugar onde termina
Um amor, uma luz, uma
canção, um grito,
A última onda duma fonte cristalina,
A última nebulosa
etérea do Infinito…
Esse país aonde tudo principia
A ser névoa, a ser
sombra ou vaga claridade,
Onde a noite se muda em clara luz do dia,
Onde o
amor começa a ser saudade;
O longínquo lugar aonde o que é real
Principia
a ser sonho, esperança, ilusão;
O lugar onde nasce a aurora do Ideal
E
aonde a luz começa a ser escuridão…
A última fronteira, o último
horizonte,
Onde a Essência aparece e a Forma terminou…
O sítio onde se
muda a natureza inteira
Nessa infinita Luz que a mim me deslumbrou!…
O
indefinido, a sombra, a nuvem, o apagado,
O limite da luz, o termo dum
amor,
Tornou o meu olhar saudoso e magoado,
Na minha vida foi minha
primeira dor…
Mas hoje, que o segredo oculto da Existência,
Num momento
de luz, o soube desvendar,
Depois que pude ver das cousas a essência
E a
sua eterna luz chegou ao meu olhar,
Meu infinito amor é a Alma
universal,
Essa nuvem primeira, essa sombra d’outrora…
O Bem que tenho
hoje é o meu amigo Mal,
A minha antiga noite é hoje a minha aurora!…

[Teixeira de Pascoaes]

domingo, 22 de maio de 2011

Pedro Burmester, Mário Laginha e Bernardo Sassetti

Três grandes pianistas numa só sinfonia. Maravilha!!

domingo, 15 de maio de 2011

sábado, 7 de maio de 2011

Razões para não votar Sócrates...

As últimas sondagens dão empate técnico entre PS e PSD. Mas o grave, é estando o país como está, o grande fx#5&$)(/&/&$%#$a e aldrabão, estar a subir nas sondagens. O que será que se passa na cabeça de toda esta gente? às vezes tenho vergonha deste país de gente pequena e medíocre.

Votem em quem quiserem, mas não votem no pinóquio, porque isso é um atestado de burrice que colam na testa do país perante o mundo. Em Espanha, o Zapatero que não fez metade, está a ser fortemente penalizado, os espanhóis não perdoam. E cá? Há vários partidos para votar, portanto penalizem Sócrates nas eleições:

- quem nos atirou para a bancarrota

- quem nos deu fama de caloteiros e mentirosos perante a Europa

- quem nuca cumpriu o programa eleitoral

- prometeu 50 000 empregos e deu 700 000 desempregados

- quem nos colocou sem futuro nas próximas décadas, pelos recursos que teremos de afectar `a divida

- quem cerceou as liberdades, e colocou a bufaria e o medo no aparelho de estado

- quem agravou o problema da justiça, da saúde, da educação

- quem endividou o estado para dar contratos às empresas empregadoras dos bois xuxalistas

- quem criou um estado paralelo de fundações e institutos que alberga a máquina do PS

- quem prega pelo estado social mas reduziu e cortou reformas, subsídios sociais, salários entregou a saúde aos privados

- quem entregou estradas publicas (A25, A28...) aos privados e agora são pagas

- quem está metido em tudo o que são grandes processos de corrupção mal explicados

Como podem os portugueses entregar votos a um individuo sem escruplos, que fez tanto mal ao país?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Dinheiro



O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!

João de Deus, in Campo de Flores

terça-feira, 3 de maio de 2011

O poder curativo dos professores

E é por isso que os docentes reclamam uma avaliação justa do seu desempenho. Uma avaliação em que se revejam, que os estimule a empreender e que os ajude no seu crescimento profissional.


Ser professor acarreta uma profunda carga de utopia e de imaginário. Com o lento passar do tempo e da memória coletiva, gerações após gerações ajudaram a elaborar a imagem social de uma profissão de dádiva absoluta e incontestável entrega.

O poder simbólico da atividade docente leva a que os professores sintam sobre os seus ombros a tarefa hercúlea de mudar, para melhor, o mundo; de traçar os novos caminhos do futuro e de preparar todos e cada um para que aí, nesse desconhecido vindouro, venham a ser cidadãos de corpo inteiro e, simultaneamente, mulheres e homens felizes. É obra!

Ao mesmo tempo que a humanidade construiu uma sociedade altamente dependente de tecnologias dominadoras, transferiu da religião para a escola a ingénua crença de que o professor, por si só, pode miraculosamente desenvolver os eleitos, incluir os excluídos, saciar os insatisfeitos, motivar os desalentados e devolvê-los à sociedade, sãos e salvos, com certificação de qualidade e garantia perpétua de atualização permanente.

O emergir da sociedade do conhecimento acentuou muitas assimetrias sociais. Cada vez é maior o fosso entre os que tudo têm e os que lutam para ter alguma coisa; entre os que participam e os que são marginalizados e impedidos de cooperar; entre os que protagonizam e os que se limitam a aplaudir; entre os literatos dos múltiplos códigos e os que nem têm acesso à informação.

E é este mundo de desigualdades que exige à escola e ao professor a tarefa alquímica de homogeneizar as diferenças.

Os professores podem e estão habituados a fazer muito e bem. Têm sido os líderes das forças de sinergia que mantêm os sistemas sociais e económicos em equilíbrio dinâmico. São eles que, no silêncio de cada dia, e sem invocar méritos desnecessários, evitam que muitas famílias se disfuncionalizem, que as sociedades se desagreguem, que os estados se desestruturem, que as religiões se corroam.

Mas não podem fazer tudo. Melhor diríamos: é injusto que se lhes peça que façam mais.

Particularmente quando quem o solicita sabe, melhor que ninguém, que se falseia quando se tenta culpabilizar a escola e os professores pelos mais variados incumprimentos imputáveis ao sistemático demissionismo e laxismo das famílias, da sociedade e do próprio estado tutelar.

É bom que se repita: os professores, por mais que se deseje, infelizmente não têm esse poder curativo. Dizemos infelizmente porque, se por milagre o tivessem, nunca tamanho domínio estaria em tão boas e competentes mãos.

E é precisamente porque nunca foram tocados por qualquer força divina que os professores, como qualquer outro profissional, também estão sujeitos à erosão das suas competências; que, como qualquer técnico altamente qualificado, também necessitam de atualização permanente. E é por isso que os docentes reclamam uma avaliação justa do seu desempenho. Uma avaliação em que se revejam, que os estimule a empreender e que os ajude no seu crescimento profissional.

Todas as escolas preparam impreparados. Até as que formam professores. Sempre foi assim e, daí, nunca veio mal ao mundo. É a sequência e a consequência da evolução dialética das sociedades e das mentalidades.

Por isso, centrar a discussão na impreparação profissional dos docentes, como se tal fosse estigma exclusivo desta classe e justificasse as perversas iniciativas que lançam a suspeita pública sobre a responsabilidade ética dos educadores no insucesso do sistema educativo e no desaire das políticas educativas que não têm vindo a sancionar, isso, dizíamos, traduz uma inqualificável atitude de desprezo pela verdade e pela busca de soluções credíveis e partilhadas.

Admitir que a educação pode resolver todos os problemas e contradições da sociedade, resulta em transformá-la em vítima evidente do seu próprio progresso.

Repetimos: os professores não têm esse poder curativo. Os docentes não podem solucionar a totalidade dos problemas com que se confrontam as sociedades contemporâneas, sobretudo se não tiverem os contributos substanciais dos outros agentes educativos e das forças significativas da sociedade que envolvem a comunidade escolar.

Evidentemente que a escola e os professores podem e devem contribuir para o progresso da humanidade e para o seu desenvolvimento político, económico, social e cultural. Porém, tal não é atingível apenas com meros instrumentos educacionais porque eles, por si só, não são capazes de estilhaçar o mundo de crescentes desigualdades e uma cúpula política sob a qual coexistem a injustiça, o desemprego e a exclusão social.

Os professores não têm esse poder curativo e, por favor, não os obriguem a ser mais do que são ou nunca serão o que o futuro lhes exige que venham a ser.

Prof. João Ruivo, 2011-05-02

domingo, 1 de maio de 2011