sábado, 21 de fevereiro de 2009
As palavras sempre ficam...
Se me disseres que me amas, acreditarei.
Mas se escreveres que me amas,
Acreditarei ainda mais.
Se me falares da tua saudade, entenderei,
Mas se escreveres sobre ela,
Eu a sentirei junto contigo.
Se a tristeza vier a te consumir e me contares,
Eu entenderei, mas se a escreveres no papel,
O seu peso será menor.
E assim são as palavras escritas:
possuem um magnetismo especial, libertam,
acalentam, invocam emoções...
Safira
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Dia dos namorados...
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21-10-1935
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Pequenos deuses caseiros...
Pequenos deuses caseiros
que brincais aos temporais,
passam-se os dias, semanas,
os meses e os anos e vós jogais,
jogais o jogo dos tiranos.
Pequenos deuses caseiros
cantai cantigas macias
tomai vossa morfina,
perdulai vossos dinheiros
derramai a vossa raiva
gozai vossas tiranias,
pequenos deuses caseiros.
Erguei vossos castelose
legei vossos senhores
espancai vossos criados,
violai vossas criadas,
e bebei, o vinho dos traidores
servido em taças roubadas.
Dormi em colchões de penas,
dançai dias inteiros,
comprai os que se vendem,
alteai vossas janelas
e trancai as vossas portas,
pequenos deuses caseiros e reforçai,
reforçai as sentinelas.
Sidónio Muralha
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Porque...
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andersen
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Nostalgia...
Nesse País de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!
Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar!Não sei por onde vim...
Ah!Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Florbela Espanca
E as jóias que plas aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!
Ó meu País de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar!Não sei por onde vim...
Ah!Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Florbela Espanca
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