terça-feira, 26 de maio de 2009

Pianinho. Um Poema de Luís Costa



Mote: Com o meu vestido preto
Eu nunca me comprometo

Tenho um discurso limpinho
E cheio de sensatez
Digo as coisas de mansinho
E falo bem pianinho
De modo muito cortês

C’o meu discurso da treta
Não há quem me comprometa

Eu não alinho em doidices
Nem abuso de topete
Com umas quantas sonsices
Outras tantas lamechices
Já componho o ramalhete

C’o meu discurso da treta
Não há quem me comprometa

Por isso eu palavreio
Sempre com muito juízo
Eu sombreio e branqueio
Pranteio e saracoteio
Mas eu nunca concretizo

C’o meu discurso da treta
Não há quem me comprometa

Não me meto em alhadas
Muito menos em querelas
Não calcorreio auto-estradas
E “manifes” nem pintadas
Não vá o outro tecê-las
Luís Costa

sábado, 23 de maio de 2009

Crepúsculo


Pintura de Safira


E eu tinha os olhos cheios,
mas tão cheios de luz,
que se fechasse as pálpebras
ela jorraria como pranto,
como pranto — abrindo-se
em flores orvalhadas.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro, aligeirando-o
como à árvore o vento
que lhe atira os frutos
ao chão, e aí,
libertas, as folhas
frondejam nas alturas
com um novo frémito.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro e corria-me
pelas veias, lenta, calma.

Ággelos Sikelianós
(Trad.: José Paulo Paes)

terça-feira, 19 de maio de 2009

SINTO VERGONHA DE MIM - Poesia de Rui Barbosa



Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-Mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!

'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'.

Rui Barbosa

domingo, 17 de maio de 2009

El Maestro, Patxi Andion

http://www.youtube.com/watch?v=cmToaxxeZNQ

Con el alma en una nube
y el cuerpo como un lamento
viene el problema del pueblo,
viene el maestro.

El cura cree que es ateo,
y el alcalde comunista,
y el cabo jefe de puesto
piensa que es un anarquista.
Le deben treinta y seis meses
del cacareado aumento
y él piensa que no es tan malo
enseñar toreando un sueldo.
En el casino del pueblo
nunca le dieron asiento
por no andar politiqueando
ni ser portavoz de cuentos.

Las buenas gentes del pueblo
han escrito al ministerio
y dicen que no está claro
cómo piensa ese maestro.
Dicen que lee con los niños
lo que escribió un tal Machado
que anduvo por estos pagos
antes de ser exiliado.

Les habla de lo innombrable
y de otras cosa peores,
les lee libros de versos
y no les pone orejones.
Al explicar cualquier guerra
siempre se muestra remiso
por explicar claramente
quién venció y fue vencido.
Nunca fue amigo de fiestas
ni asiste a las reuniones
de las damas postulantes,
esposas de los patrones.

Por estas y otras razones
al fin triunfó el buen criterio
y al terminar el invierno
le relevaron del puesto.
Y ahora las buenas gentes
tienen tranquilo el sueño
porque han librado a sus hijos
del peligro de un maestro.

Con el alma en una nube
y el cuerpo como un lamento
se marcha el padre del pueblo,
se marcha el maestro.

quinta-feira, 14 de maio de 2009


Loucura

Viver uma loucura,
Acreditar numa aventura.
Cada momento
de encantamento
Representa uma vitória,
no enorme caminho
Para a glória.
Cada pessoa com as quais cruzamos,
cada palavra em aque acreditamos,
Representa a verdade que queremos alcançar.

Fechar os olhos e sentir,
Ter necessidade de reagir
Ao mundo que nos faz reflectir.
Olhar em frente,
Por vezes assustar e cair.
Levantar como toda a gente,
Ter necessidade de seguir.

Acreditar é a palavra-chave,
Para não haver nenhum entrave
No caminho,
Um caminho inacabável.
Construir o futuro
Sempre instável,
Mas o coração,
Sempre seguro.

Safira