quinta-feira, 22 de julho de 2010

Férias...


Depois de um ano muito cansativo, vou para umas merecidas férias...


Até Setembro,


Safira

sábado, 17 de julho de 2010

Morre lentamente...




"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»

Pablo Neruda

segunda-feira, 12 de julho de 2010

José Régio - Soneto quase inédito



Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.


Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.


E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,


Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Nono Cálice




Digo-te pois em segredo
Na frente de toda a gente,
Porém, sem o mínimo medo
De ao proferi-lo, de repente
Na inveja de quem por vê-lo assim
Ao nome desmascarado, o obrigue rogado
Exigido, coitado, outrossim,
Assustado no pormenor enredo
E queira parecer ser coisa diferente:
Porém, certo é dizer-to em segredo
Teu nome, só para mim,
Sabendo-o conhecido de toda a gente!


Sei-o de trás para diante
Anterior ou partindo do meio,
Repetido como refrão constante
Atreito ao brilho do diamante
Como às espigas do trigo e do centeio.


Dou-lhe aval garantido
Pelos registos da memória
Como assinatura de lido
Seja só ficção ou história.


E acerto a terceira sílaba
Do meu relógio e tempo
Na cripta de uma cabala
Onde a mim próprio me invento.

E três vezes três vezes te digo
Pelas frestas do sonho em flor,
Não serve de nada o conto antigo
Se a Aliança renegar o amor!
Joaquim Castanho

quinta-feira, 1 de julho de 2010

BRINDEMOS MEU AMIGO



Décimo Oitavo Cálice

Quando até a literatura é estrangeira

Na regra dos noves fora mais antiga

É condição redobrada ser a primeira

A contar de quanto trauteio a cantiga

De ficar absorto a soletrá-la pertinaz

Já que o corpo por repouso tudo aceita

Incluindo ler, que só à mente deleita,

Seja a tarde longa e calma ou fugaz

Que sempre voará se no fazer apraz.



Medido o tempo por esta clepsidra

Onde cada segundo é uma frase lida

A pingar da pipeta do entendimento

Tece enredos quem só decepa a Hidra

Lhe sega as cabeças do medo à vida

Tira à serpente gigante o tormento

E lhe dá em troca o jeito sagaz melado

De um S com asas dito voo soletrado

E no sibilo de uma língua enrolado.



A primeira letra de um nome, portanto

Só anda repetido adiante, se avança

Revestido na aliança serena do canto

Em que o compasso é passo e balança

Braço dado fazendo do par a esperança

Deste Alentejo como um lamento cantado

Na sesta amena ao ritmo arado do beijo

Que é outro tanto do canto do S no desejo.



Boca a desenrolar-se é só mandorla da fé

Num zero que a cabala indica, mas que é

O seixo do ábaco se a unidade multiplica

Por dez, por cem, por mil e até o infinito

Estica, dando ao ver o que só se acredita

Existir, sendo esse anel o aro de espírito

Suficiente à matéria como forma de lente

Prà visão num oito alcançar o ponto fito

Que nunca é visto só pelo olhar da gente.



Quem já viu longe e para lá do horizonte

Que a eternidade tem por coisa tão certa

Como uma árvore, colina, rio, ou monte

Habitado por família unida, sã e desperta?

Então, esse sabe até reconhecer a aresta

Que há no distante Sol cuja seta acerta

Raio de alerta e sobre a alma o rio apresta

Ao tempo contínuo, sem fim, sólida ponte!


2010-07-01

Joaquim Castanho