sábado, 18 de agosto de 2012

GRITO

Não posso já com ervas nem com árvores;

Prefiro os lisos, frios mármores

Onde nada está escrito.


Meu gosto da paisagem fez-se escuro;

Nenhures é o lugar que mais procuro

Como homem proscrito.


Eu bem sei: A verdura! A flor! Os frutos!

Mas não posso passar de olhos enxutos,

Meu campo verde aflito.


Porventura cegaram os meus olhos

Porque há nos silveirais flores aos molhos

– Tanta flor me tem dito.


Mas eu bem sei que movediços lodos

Que são o chão, as lágrimas de todos,

Meu coração contrito.


Eu não sei se amanhã será meu dia;

Recolho-me furtivo na poesia,

Incerto o chão que habito.


Ai de mim! Ai de mim, nuvem medonha!

Os homens conheci, bebi peçonha,

E é por isso que grito.


Afonso Duarte



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Faz sentido falar em remodelação...

… quando o Governo se tornou um cemitério de ministros incapazes de acção própria (Miguel Macedo, Assunção Cristas, Álvaro Santos Pereira) ou uma montra de vaidades (Miguel Relvas, Paulo Portas, Aguiar Branco), passando por níveis variados de autómatos ao serviço da troika (Pedro Mota Soares, Nuno Crato, Paulo Macedo, Vítor Gaspar, o próprio PM)?

Quando ninguém, a menos que seja jovem aspirante a organizar a sua futura vidinha (posso nomear um punhado de ex-bloggers) ou manifesto vaidoso (um ou outro dos antigos candidatos a ministro das Finanças, que sinta que a prateleira que lhe arranjaram não tem o poder necessário para alimentar o seu ego, isto para não falar no que era para ser MEC em vez do actual MEC)?

Alguém imagina uma personalidade de destaque, com capacidade para fazer neste momento algo diferente da cartilha, com interesse em fazer parte do Governo?

Ao fim de um ano o governo de Passos Coelho parece o de Sócrates em 2009, ao fim de quatro anos de mandato. Até poderia ganhar eleições, mas apenas por manifesto demérito do outro lado.

Como nos tempos de MLR no ME, acho que todos os que aceitaram desempenhar este papel devem apodrecer politicamente com ele até ao fim. Afinal, estamos em Portugal, e nenhum deles será responsabilizado por nada e o mais certo é acabar com uma nomeação bem jeitosa para o resto da vida.

Posted by Paulo Guinote

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O problema do País é gravíssimo...


A Banca também não ajuda, como solução.

O problema do País é gravíssimo, e o mês de Agosto está a fazer escorrer para o início de Setembro todas as desgraças.

Quando pais e mães sentirem tremendas dificuldades para ter a miudagem nas escolas, dar-lhes de comer, transportes e conseguirem os próprios se alimentarem e pagar dívidas, quando não houver forma de cumprir compromissos que foram sendo empurrados até ao limite, quando tudo estiver a rebentar, tudo, vai ser catastrófico. E está perto.

Ninguém escapará, mesmo que nunca tenha tido uma divida. E não vão chegar os chineses que compraram – e vão continuar – empresas já feitas, já instaladas, com clientela assegurada, mas sem criar novos postos de trabalho – nem um – , não vão chegar uns apoios pífios aos primeiros empregos, com reduções de encargos pela entidade empregadora, não vão chegar pais/mães reformados que já mal sobrevivem a dar dinheiro aos filhos em crise.

Ou se reestrutura tudo, mesmo tudo, acabando com privilégios, acima do bom senso que para muitos ainda vigoram – os intocáveis do sistema – fundido , já, Institutos, freguesias, Câmaras, Empresas Publicas, e tudo o mais que faz empobrecer em milhões a cada dia que passa o nosso País, e acabando-se com mordomias, ou nem cacos teremos para recolher. Nem chineses a nos valer.

E quanto ao papel da Banca? Ainda não se conseguiu encontrar o verdadeiro “culpado” , se a banca que incentivou, facilitou todo o tipo de créditos, à habitação, aos moveis, ao automóvel, às férias, ao consumo, se o cidadão que achou que à custa de dinheiro que não tinha, mas que o Banco de sempre ou outro, lhe emprestava, tudo podia “ter” e um dia, lá muito para a frente, pagaria. Quem souber, quem conseguir, que descubra aqui, quem nasceu primeiro: galinha ou ovo, ou seja Banca ou cidadão.

No dia 1 de Setembro mais pessoas não vão conseguir pagar contas como o faziam há 4 anos, dado que tudo mudou. O País deixou de viver acima das suas possibilidades, e ao acertar o nível, todos os compromissos de país rico que passou a remediado, são totalmente impossíveis de cumprir, se não forem alterados.

Assim, cabe também à banca, pensar e melhor agir, renegociando tudo, repensando tudo, seja baixando juros, seja alargando prazos para resolução das dívidas, que vão num crescendo interminável.

Se o não quiserem fazer, como até aqui, serão os fieis depositários de milhares de casas, apartamentos, andares, automóveis e de tudo o mais que foi adquirido a crédito, a tudo isto não tendo como dar destino, – não vão vender aos chineses e angolanos e brasileiros, - e continuando família a família a falir, os bancos também não se vão aguentar, como se fossem oásis na terra de ninguém. Rebentarão, também.

Ao ser tudo repensado – já devia ter sido – os juros baixam, os prazos alargam, tudo será diferente. E claro, os bancos terão menos riqueza, mas irão não sufocar as famílias portuguesas. Nem auto- aniquilarem-se.

Mas como é evidente novos créditos a habitação, automóvel, móveis, férias, consumo, nunca, nunca, nos anos próximos! Acabou!

Ou passa a haver entreajuda e todos a fazerem parte da solução, ou o descalabro será geral, quando para nada dinheiro existir. E aí já nem da Banca precisamos. Por acaso quem escreve “isto” não tem qualquer crédito, logo não é para se proteger, antes para ver se o País e os seus concidadãos sobrevivem com alguma decência. E claro o próprio, dado que sem País, não sabe onde ficar!


Augusto Küttner de Magalhães
Agosto de 2012



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa!

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates...Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido. Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, em governação socialista, distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos. Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora continua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande "cavallia" (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades. Gente assim mal formada vai aceitar tudo, e o país será o pátio de recreio dos mafiosos. A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada. Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado. Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve. Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituamo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura. E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade. Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos? Vale e Azevedo pagou por todos? Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático? Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana? Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal? Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma. No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância. E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou? E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu? Alguns até arranjaram cargos em organismos da UE. Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu. E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê? E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.. E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina? E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca. Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade. Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra. Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.


Este é o maior fracasso da democracia portuguesa!



Clara Ferreira Alves - "Expresso"