sábado, 18 de agosto de 2012

GRITO

Não posso já com ervas nem com árvores;

Prefiro os lisos, frios mármores

Onde nada está escrito.


Meu gosto da paisagem fez-se escuro;

Nenhures é o lugar que mais procuro

Como homem proscrito.


Eu bem sei: A verdura! A flor! Os frutos!

Mas não posso passar de olhos enxutos,

Meu campo verde aflito.


Porventura cegaram os meus olhos

Porque há nos silveirais flores aos molhos

– Tanta flor me tem dito.


Mas eu bem sei que movediços lodos

Que são o chão, as lágrimas de todos,

Meu coração contrito.


Eu não sei se amanhã será meu dia;

Recolho-me furtivo na poesia,

Incerto o chão que habito.


Ai de mim! Ai de mim, nuvem medonha!

Os homens conheci, bebi peçonha,

E é por isso que grito.


Afonso Duarte



2 comentários:

BLOGDOADHERBAL-ATIVIDADES disse...

muito bonito

Ailime disse...

Nas minhas incursões pela Net encontrei o seu Blogue.
Os poemas e artigos muito ao meu gosto.
Ailime